Para celebrar o Dia Internacional da Mulher, selecionamos 8 dicas culturais que propõem reflexões importantes sobre o lugar da mulher no mundo contemporâneo. São questões como memória, pertencimento, racismo, ancestralidade, feminismo e gênero.
A primeira dica, imperdível, é a exposição “Carolina Maria de Jesus: Um Brasil para os brasileiros”, em cartaz no Instituto Moreira Salles (IMS), em São Paulo, até dia 27/03/2022. A mostra resgata a história e o trabalho da escritora e multiartista Carolina Maria de Jesus que, apesar do talento, foi rotulada, por décadas, como ‘escritora favelada’.
A seguir, sugerimos sete ótimos livros escritos por mulheres brasileiras, com propostas, estilos e temáticas diversas, publicados entre 2021 e o começo de 2022. A única exceção é a edição especial de Água Viva, de Clarice Lispector, que saiu em 2019.
Vem ver tudo!
Exposição – Carolina Maria de Jesus: Um Brasil para os brasileiros
Até o dia 27 de março, você pode conferir a exposição sobre a escritora, poeta, compositora e cantora, Carolina Maria de Jesus, em cartaz no Instituto Moreira Salles (IMS), em São Paulo.
Mulher negra, pobre, nascida em Sacramento (MG), em 1914, Carolina Maria de Jesus ficou conhecida, em 1960, com a publicação do livro “Quarto de despejo”. Escrito em forma de diário, o texto narra o cotidiano da autora na favela do Canindé, em São Paulo. Foi um tremendo sucesso de público e crítica: entrou para a lista dos mais vendidos no Brasil, e foi publicado em 46 países.
A mostra “Carolina Maria de Jesus: Um Brasil para os brasileiros” traz, agora, cerca 300 itens, entre fotografias, matérias de imprensa, vídeos e outros documentos, revelando como Carolina encarou as contradições, a política e a desigualdade do Brasil de sua época.
Para complementar, obras de 60 artistas, entre selecionadas e comissionadas, dialogam com os temas tratados por Carolina. A curadoria ficou a cargo do antropólogo Hélio Menezes e da historiadora Raquel Barreto, assistidos pela historiadora da arte Luciara Ribeiro e pelo trabalho de pesquisa da crítica literária e doutora em letras Fernanda Miranda.
Lista de livros – Escritoras brasileiras exibem excelência e multiplicidade
Casa de Alvenaria (Cia das Letras, 2 volumes) – Carolina Maria de Jesus
Nos dois volumes, a autora relata seus tempos de glória, depois da publicação do primeiro livro, Quarto de Despejo. A nova edição preserva a grafia original, que havia sofrido modificações na primeira edição. E conta, ainda, com prefácio da escritora e doutora em Literatura, Conceição Evaristo.
Cartas para Minha Avó (Cia das Letras) – Djamila Ribeiro
Num relato afetivo e corajoso, a filósofa e expoente do feminismo negro, Djamila Ribeiro, revê sua trajetória desde a infância e aborda temas como ancestralidade negra e os desafios de criar filhos numa sociedade racista. O relato se dá na forma de cartas à sua saudosa avó Antônia, conhecedora de ervas curativas e benzedeira requisitada.
Água Viva, Edição com manuscritos e ensaios inéditos (Rocco) – Clarice Lispector
Esta edição especial reúne pela primeira vez, em um mesmo volume, os rascunhos do livro mais misterioso e autobiográfico de Clarice. Assim, o leitor pode acompanhar as modificações da autora no texto que, inicialmente, tinha como título “Objeto Gritante” e foi lapidado até chegar à versão final, como “Água Viva”, sob influência do filósofo José Américo Pessanha. Há, ainda, importantes ensaios, de Alexandrino Severino, Sônia Roncador, Ana Claudia Abrantes e Teresa Montero, que lançam luz sobre o livro.
Risque Esta Palavra (Cia das Letras) – Ana Martins Marques
Uma das poetas mais celebradas de sua geração, vencedora do prêmio da Biblioteca Nacional em 2011, e agraciada com o terceiro lugar no prêmio Oceanos, em 2015, a mineira de Belo Horizonte burila as palavras à perfeição. Com clareza, inquietação e habilidade, Ana Maria Martins faz, neste novo livro, uma espécie de inventário de experiências afetivas. Detalhe: a escritora esteve em Tiradentes, no mês passado, participando do Festival Artes Vertentes.
Arrastados – Os bastidores do rompimento da barragem de Brumadinho (Intrínseca) – Daniela Arbex
Jornalista investigativa premiada, a mineira Daniela Arbex foi a campo para reconstituir em detalhes as primeiras 96 horas da tragédia do rompimento da barragem de Brumadinho. Entrevistou sobreviventes, familiares das vítimas, bombeiros, médicos-legistas, policiais e moradores das áreas atingidas. Depois, retornou à região para acompanhar o impacto das disputas por indenizações e contrapartidas institucionais para a reparação dos danos materiais. Apesar da brutalidade do tema, o livro mostra, com delicadeza, o lado humano da catástrofe, visando construir memórias que impeçam sua banalização no noticiário cotidiano. Assim como a poeta Ana Martins Marques, citada acima, Daniela Arbex também esteve aqui em Tiradentes para lançar o livro no Festival Artes Vertentes.
A Extinção das Abelhas (Cia das Letras) – Natalia Borges Polesso
Segundo romance da ganhadora do prêmio Jabuti, A extinção das abelhas é uma história brutal sobre uma mulher, um gato e um mundo em colapso. Ao criar um universo que é tão distópico quanto real, com uma galeria de personagens impressionantes, a autora confirma seu domínio narrativo e constrói uma história sobre o colapso, mas também sobre a salvação.
O Som do Rugido da Onça (Cia das Letras) – Micheliny Verunschk
No início do século 19, os exploradores Martius e Spix sequestraram duas crianças indígenas, no Brasil, e as levaram para a Europa, junto com espécimes de plantas e animais. O acontecimento verídico foi o ponto de partida para a escritora pernambucana, que nos apresenta a história do ponto de vista das crianças, e em especial da menina Iñe-e, da etnia miranha. Memória, colonialismo e pertencimento são questões que perpassam o livro, escrito numa prosa cheia de lirismo.
Esta lista foi feita a partir de indicações de amigos, de uma lista de Adriana Ferreira Silva –redatora-chefe da revista Marie Claire– publicada no site da revista, e de resenhas do site Quatro Cinco Um, dedicado à literatura.